A fotografia representa uma parada no tempo. O congelamento de um instante. Mas nem só de apertar o botão incessantemente vive um fotógrafo – ou um aspirante a. A Sala de Fotografia foi ao Canela Foto Workshops para repensar muitas coisas sobre esse ato de escrever com a luz. E, ao final, a conclusão que ficou é a de que toda a área da produção de imagens precisa buscar o conhecimento sempre. Mais do que produzir desenfreadamente, deve-se estudar cada vez mais a produção de sentido na fotografia.
Vamos então à descrição do que rolou no Canela Foto Workshops, que ocorreu entre os dias 14 a 17 de abril, na turística cidade de Canela/RS. Desde 2002, o evento reúne importantes nomes da fotografia brasileira para trocas de experiências e atualização.
O evento ofereceu diversas oficinas e workshops de atualização na quinta e na sexta-feira. Importantes nomes da fotografia brasileira, como Clóvis Dariano, Fernando Bueno, Fernando Schmitt e Marcio Scavone, ministraram o conteúdo destes dias. A Sala de Fotografia levou seus alunos para participar da programação e aproveitou para enriquecer seu conhecimento. No sábado, um grupo de alunos passou o dia no Canela Foto Workshops.
Simpósio
A tarde de sábado foi dedicada ao simpósio “Novos Caminhos da Fotografia”, que trouxe 14 associações e entidades ligadas à educação em fotografia.
A professora da UCS Silvana Boone abriu as reflexões enfatizando que é preciso pensar como se colocar nesse contexto de processo de criação, independente da tecnologia. “Um curso superior precisa estar conectado a todas as tecnologias, mas não pode ficar só nisso”, disse. Ela opinou ainda que os cursos precisam ter todos os softwares, mas é mais significativo saber como conduzir o processo para que o aluno seja diferente do que está no mercado de trabalho. Silvana ainda citou a Sala de Fotografia como exemplo de instituição que traz conhecimento significativo para quem não quis buscar uma formação na universidade.
Sua fala sobre tecnologia se conecta com a de Karla Nyland, da escola Pixel Sete, de Porto Alegre. Para ela, o selfie busca satisfação instantânea, que não produz reflexão. “Clicar desenfreadamente é não pensar. E não sei se como sociedade não usamos o clique para não pensar, talvez”, reflete. E se questiona sobre a prática corrente de que a foto só vale se é postada imediatamente no Facebook. “Tem que cuidar com essa liquidez, que escorre pelos dedos quando não se imprimem as fotografias. Como assim, fica velho? Tudo é rápido, intenso, líquido, amanhã não serve mais. A fotografia precisa ser repensada nesse ponto. Para mim, imprimir as imagens e as exposições fotográficas são um contraponto a isso”.
O fotógrafo Fernando Bueno, um dos organizadores do Canela Foto Workshops, ponderou que se opõe à prática de clicar excessivamente. “Sou completamente contra fotografar que nem louco e depois não conseguir nem achar as imagens. Nós fotógrafos não temos consciência do que vai virar uma foto daqui a 10 anos, qual será o seu valor histórico. Não é só guardar uma foto, mas é conseguir saber onde está guardada”, posicionou-se.
Fotografia não é só imagem, mas também é comportamento, para Danilo Christidis, fotógrafo que representou a Fluxo Escola de Fotografia. Para ele, deve-se pensar a foto muito além de linguagem visual e como formação de memória. A imagem significa comportamento: posta-se fotos não só pela beleza, mas para ver se tal pessoa curtiu, significando que está interessada em quem postou. Christidis ainda expôs que gostaria que a educação de imagem fosse uma política pública.
Essa opinião também foi exposta pela professora Beatriz Salete, que falou no simpósio em nome da Unisinos. Para ela, é necessária a alfabetização visual na base. “Se estamos trocando texto pela imagem, precisamos levar isso desde o ensino básico”, disse.
Eduardo Seidl, da PUC-RS, retomou teóricos como Flusser para explicar que, se a história foi escrita pelo verbo, a pós-história é escrita com imagens. O professor defendeu a imagetização, ou seja, a alfabetização visual. Afinal, agora estamos nos comunicando com imagens o tempo todo, e isso não pode ser feito de forma inconsequente.
Essa ideia vem de encontro ao que a Sala de Fotografia também acredita. Não basta apenas demonstrar a técnica aos alunos de fotografia, visando o resultado final da imagem. É muito mais importante, atualmente, proporcionar a esse aluno uma nova leitura da visualidade.
Já o professor da ESPM Leopoldo Plentz questionou sobre a produção de sentido na fotografia. Ele explicou que a questão de como se produz não é mais relevante, já que, às vezes, com um celular, se produz uma foto com uma excelente qualidade técnica. “O ato de produzir não é mais relevante. O problema é a formação de sentido, que é muito mais complicado”.
A professora da UCS e da Feevale, Myra Gonçalves, citou a sociedade líquida, ao afirmar que o mundo digital torna cada vez mais difícil nos relacionarmos. Ela aproveitou para fazer um discurso pessoal de suas inquietações como fotógrafa e professora, salientando a importância do ensino e a valorização da produção feminina nessa área. Myra ainda falou sobre a necessidade de ser criativo ao entrar no mercado de trabalho, e sobre as novas formas colaborativas de ir em frente.
Carlos Carvalho, coordenador geral do FestFoto – Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, deu um recado claro a plateia: “vamos perder o medo de ser internacionais!”. Ele se referia a ideia de que as leituras de portfolio que ocorrem em festivais acabam por ser a porta de entrada para os fotógrafos exibirem o seu trabalho para importantes profissionais do exterior, alavancando, assim, carreiras. Carvalho ressaltou ainda que hoje a fotografia é a experiência mais importante na arte contemporânea. “Se pedir para grandes curadores citarem importantes trabalhos, a cada 10, vão citar oito de foto”, enfatizou. “Se teu trabalho é tão íntimo, tão seu, é arte. Se é arte, e alguém não quer pagar o que vale, você não pode estar com esse cara aí!”
Participaram ainda do simpósio Antônio Sobral, pela Ulbra; Andréia Brachel e Michel Cortês, pela UFRGS; Cristiano Burmester, pela Abrafoto; Evandro Veiga, pela Viacolor; Marcelo Campos, pela Arfoc-RS; e Claiton Martins-Ferreira pela escola de fotografia Câmera Viajante.
Ainda sobre a discussão gerada pelo simpósio, a Sala de Fotografia conclui que é necessário estudar para entender a produção de sentido das imagens. Se o fotógrafo quer ter coerência, criatividade e competitividade no mercado de trabalho, ele tem que ir atrás de novas referências e novos conhecimentos.
Depois de todo esse simpósio, ainda sobrou fôlego para acompanhar a palestra The Communication Revolution. Acompanhe o relato neste link.
Texto: Sabrina Didoné (jornalista - 0018277/RS) e Liliane Giordano
Fotos: Liliane Giordano