A fotografia, desde seu início, sofre transformações. Sua forte expansão contemporânea agrega não somente diferentes formas de apresentar imagens, como também de como concebê-las. As múltiplas possibilidades representam agora imagens não mais em um espaço particular, mas buscam um pensar e um produzir que podem expandir seus limites.
Neste contexto, o Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta, que ocorreu entre os dias 9 e 13 de março em Minas Gerais, apresentou fotógrafos e artistas que representam a cena da fotografia contemporânea. Houve uma mostra do trabalho e principalmente do processo desse trabalho, mostrando a importância dessa imersão para que se possa fundamentar e assim ultrapassar os limites da própria imagem. Ainda, foi exposto um panorama das revoluções e renovações pela qual passa o meio fotográfico, que representa de forma significativa as tendências e debates que norteiam a cena da fotografia. Profissionais de renome nacional e internacional, cuja produção artística é representativa na área, estiveram presentes nos quatro dias de evento.
E a Sala de Fotografia esteve na cidade mineira de Tiradentes para presenciar tudo isso. Participamos e trocamos experiências nas mais diversas atividades do Festival, como exposições, workshops, palestras, debates, leituras de portfólio e projeções de fotografias. Sete alunos nos acompanharam nessa jornada.
A palestra de abertura do festival, na quinta-feira (9/mar), foi de Alexandre Sequeira, artista plástico, fotógrafo e professor, que apresentou sua experiência com o processo da fotografia. Ele contou um pouco sobre um dos seus projetos com dois adolescentes que trocaram impressões sobre suas realidades a partir de cartas e fotografias. Sequeira também relatou sobre o projeto Nazaré do Mocajuba, e afirmou que, com projetos como esses, sai da condição de autor e passa à condição de propositor do trabalho. A partir dessas iniciativas, ele formulou trabalhos que sugerem uma nova realidade construída, com registros oriundos de processos artesanais como pinhole. O resultado é, como ele diz, “uma rede de afetos”.
Ainda na quinta-feira, o Festival apresentou a palestra “Construção de processos metodológicos e de criação visual: uma experiência do ateliê Fotô”, com Eder Chiodetto, curador do MASP, e Fabiana Bruno, doutora em Multimeios. A mesma dupla apresentou na sexta-feira a palestra “Arquivos-vivos: quando as fotografias confidenciam memória, desejo e poder”. E, no sábado, falaram sobre “Constelações e Intermitências: a vida migrante das imagens e suas montagens”. Esses ciclos de palestras trouxeram as experiências com grupos de estudos no ateliê Fotô, no qual cada grupo conduziu determinado processo de trabalho. A ideia desse ciclo foi pensar a fotografia como algo vivo, sendo assim, possui múltiplas possibilidades. Ou seja, é possível trabalhá-la tanto ao criar novas imagens como utilizando já existentes.
Isso vem de encontro ao que foi dito pela artista visual Rosângela Rennó, que fez o fechamento das palestras do Festival no sábado (12/mar). Ela aproveita essas múltiplas possibilidades da fotografia, já que produz arquivos a partir de outros pré-existentes. Ainda, ela relatou suas experiências a partir do processo de criação e participação em eventos e bienais.
De volta a quinta-feira, o artista Pedro Motta mostrou como faz interferências com desenhos e outros elementos em suas fotografias. Ele explicou que atualmente busca mais referências nas artes plásticas do que na fotografia. “Ainda não a deixei de lado, pois é um suporte que tem funcionado bem com o meu trabalho atual. Mas acho que aos poucos, vou retornando ao desenho, minha base. O desenho é acima de tudo minha forma de organizar e criar novos trabalhos e pesquisas”, afirmou.
Na sexta-feira (11/mar), ainda houve as palestras com Cao Guimarães, Jonathas de Andrade e Numo Rama, sobre seus processos de trabalho. Em paralelo a sequência de palestras do Festival, ocorreram workshops e palestras como a de Rubens Fernandes Junior – que falou sobre o prêmio Conrado Wessel, além de suas experiências em pesquisas relevantes no contexto da história da fotografia e textos com o imaginário do lambe-lambe. Fernandes ressaltou ainda que é importante não perder a história da fotografia, já que estamos na era em que ela se desmaterializou. “O grande enigma é pensar o que vai ser a fotografia daqui a 100 anos. E a grande preocupação é o que nós vamos guardar para o futuro”.
A reflexão gerada pela Sala de Fotografia ao final do Festival girou em torno dos propósitos da construção dos projetos. Dentro desse contexto, cabe pensar o processo e desenvolver projetos a partir de um conteúdo, a fim de dar um entendimento para o seu trabalho, já pensando nas reverberações e na construção de uma trajetória.
Texto: Sabrina Didoné (jornalista - 0018277/RS) e Liliane Giordano
Fotos: Liliane Giordano