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Sala de Fotografia analisa: FestFoto 2016


Muito mais do que uma reflexão sobre o papel da fotografia na atualidade, o sábado no Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre – FestFoto 2016 trouxe cases de sucesso na fotografia. O evento, que procura conexões internacionais constantes, aproveitou o último dia da programação para trazer estes parceiros para palestrar. A Sala de Fotografia esteve por lá no sábado para conferir. O FestFoto ocorreu de 10 a 14 de maio, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, na capital gaúcha.

A fala mais marcante não foi estrangeira, nem a primeira. A fotógrafa Nair Benedicto encerrou a noite e foi contundente em seu discurso na palestra “Fotografia, Gênero e Cidadania”, completamente voltada para a situação política pela qual passa o país. Afinal, o festival coincidiu com os dias do afastamento da presidente Dilma Rousseff. “Devemos ser insubmissos. Vivemos em um país em crise, no qual um golpe não é chamado de golpe, uma ditadura que não é chamada de ditadura”, enfatizou.

Ela incentivou a todos da plateia a fazer algo, a sair da apatia e da melancolia, reconhecendo o que já foi feito, mesmo que errado. Pois o único jeito de não errar é ficar de braços cruzados – e mesmo assim se erra, por não agir. “Não damos valor ao que fazemos. Em cada profissão podemos brigar para um país mais igualitário”. Ainda de acordo com a fotografa, é somente por meio da criatividade que se encontram alternativas para reagir.

Ao final, Nair exibiu um vídeo que produziu na década de 80 chamado “O prazer é nosso”. O audiovisual trata da sexualidade feminina. A exibição é uma forma de retratação com a fotógrafa. Isso porque em 2012, quando ela foi a fotógrafa homenageada no FestFoto POA, foi proibida a exibição por um dos patrocinadores.

Carlos Carvalho, coordenador do FestFoto POA, antes mesmo de chamar Nair ao palco, ressaltou que o festival não faz discurso feminista, justamente porque pratica a diversidade. As mulheres sempre foram convidadas a participar das discussões nestas nove edições do evento.

A fala de Nair e a exibição do próprio vídeo trouxe a reflexão por parte da plateia do machismo ainda existente em nossa sociedade – inclusive no campo profissional da fotografia e do audiovisual. O momento, de fato, é propício para buscar reflexões de fatos que aconteceram no Brasil na época da repressão, inclusive na questão do feminino, na condição da mulher como profissional. Nair consegue retomar com este vídeo, mesmo 30 anos depois de sua produção, questões pertinentes que ainda precisam ser discutidas.

Ao final, o coordenador Carvalho se comoveu ao falar da extinção do Ministério da Cultura. Foram lágrimas de quem luta diariamente para fazer um evento cultural acontecer, e entende as suas dificuldades e falta de apoio. E que, de repente, percebe que todo o avanço que tivemos nesta área no país sofre um retrocesso, e o que já era difícil pode piorar. Carvalho leu uma carta aberta em que repudiava a extinção do ministério. Os protestos de artistas e produtores culturais de todo o país deu resultado: com a pressão, o ministério foi recriado.

A Sala de Fotografia ainda aproveitou a saída fotográfica a Porto Alegre para visitar exposições e circular pela capital

Mas antes de tudo isso, mais três palestras ocorreram no FestFoto, que esse ano teve como tema “Retratos de Família”. A primeira apresentação do dia foi de Irina Chmyreva, que falou sobre “Fotografia Russa Contemporânea”. A crítica, curadora e pesquisadora exibiu imagens de dezenas de fotógrafos russos, e contextualizou um pouco da história recente do país, sobretudo correlacionando com os tempos da União Soviética, quando era proibido fotografar nas ruas sem permissão, realizando um panorama da fotografia russa atual.

Em seguida, Wendy Watriss e Steven Evans falaram sobre sua experiência com o festival de fotografia de Houston, nos Estados Unidos, que é um dos maiores do gênero no mundo. O nome da palestra, “Changing Circunstances”, referia-se ao tema do evento, que focou a fotografia nas questões ambientais. O festival contou com 275 mil visitantes em seis semanas, com mais de 120 galerias, museus e espaços artísticos. E ainda promoveu diversas atividades, como exibições de filmes, palestras, seminários, encontros do público com artistas. As crianças também foram inclusas no festival, com programas de alfabetização por meio da foto, a fim de que possam ter habilidades em diversas áreas, sobretudo na da linguagem.

A terceira palestra da tarde no FestFoto teve como tema “Fotografia e Arte – Caminhos públicos e privados”, e trouxe as experiências da Galeria Do Not Bend (Dallas – EUA), Centro de Fotografia de Montevideo (Uruguai) e Fotomuseo Cuatro Caminos (México). De acordo com o coordenador Carlos Carvalho, esta parceria com outros festivais possibilitou ao FestFoto oferecer maior visibilidade para fotógrafos brasileiros no exterior. Ele já tinha falado um pouco sobre este assunto no Canela Foto Workshops, onde também ressaltou a importância das leituras de portfólio para a construção de carreiras internacionais.

Neste último dia de FestFoto 2016, não houve referências ao tema do evento, que era retratos de família. Fez falta a ligação com o assunto, sobretudo porque este era o momento de conclusão das discussões que ocorreram ao longo da semana. Para quem não conseguiu participar em outros dias, esta retomada do tema principal era importante.

Vale ressaltar que retratos de família é um tema muito relevante e sempre atual na fotografia desde a sua criação – e deve-se atentar para a importância do contexto não só particular de cada membro desta família, mas também dentro de um contexto social maior.

Texto: Sabrina Didoné (jornalista - 0018277/RS) e Liliane Giordano (mestre em Educação: arte, linguagem e tecnologia)

Fotos: Liliane Giordano


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