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Sala de Fotografia analisa: Go Image on Stage 2018


Saiba quem você é, conheça-se, deixe a sua verdade transparecer na sua foto, porque a imagem grita a mentira. Mas não deixe de olhar para os lados. Saiba para onde vai o mercado, as novas tecnologias. Saiba das novas tendências na fotografia. Mas não se esqueça do clássico, que vale eternamente. Invista nas redes sociais, aprenda sobre neuromarketing para entrar na cabeça do consumidor, mas fique atento ao boca a boca, que ainda vale muito. Ou seja: tenha equilíbrio. Foi isso que aprendemos de mais importante nos dois dias de congresso Go Image on Stage 2018.

Nesta segunda edição, o evento promovido pelo laboratório fotográfico Go Image, que ocorreu nos dias 15 e 16 de maio, no Intercity Hotel em Caxias do Sul, trouxe uma diversidade muito maior de assuntos. Explorou, assim, as várias facetas que um fotógrafo assume: desde como melhorar seus cliques, ou aprender mais sobre marketing, passando pela pós-produção e gerenciando o processo de trabalho.

Confira os pontos mais importantes das palestras que assistimos nestes dias de imersão fotográfica.

Portfólio

As duas primeiras palestras do congresso trouxeram fotógrafos que exibiram seu trabalho, explicando como se constituíram as suas trajetórias. Daniel Freitas, que abriu o evento, foi aplaudido de pé por mostrar uma fotografia de família sensível e espontânea. Com o título “Não é apenas sobre fotografia”, Daniel mostrou o quanto é importante se conectar com seu cliente. Em seu projeto, ele passa 24 horas na casa de uma família, retratando todos os momentos. Mas, às vezes, os momentos de maior conexão surgem quando a câmera não está na mão, e que depois se refletem nas fotos que ainda vão ser registradas. O fotógrafo mineiro apresentou ensaios emocionantes, como quando registrou o avô de uma fotógrafa aqui na Serra Gaúcha. Para ele, esta conexão e a emoção de fotografar contam muito no processo e, por isso, quando questionado por um colega se ele não cansa ao ter que ficar um dia todo com uma família, ele responde que quando se faz o que se ama, não se quer que aquilo acabe.

Daniel mostrou a sua carreira na fotografia, mesmo não inserindo referências externas – ele até falou sobre o conceito de momento decisivo, o que nos lembra Cartier-Bresson. Ele trouxe sensibilidade e emoção à plateia, mostrando retratos genuínos de família. Mostrou, inclusive, uma versão romantizada da profissão fotógrafo, exibindo o lado bom da carreira: momentos emocionantes e clientes abertos ao novo. Mesmo quando se ama a profissão, momentos difíceis virão. Mas Daniel cumpriu o seu papel de deixar o público com tesão pela fotografia, relembrando-o do quanto a profissão pode ser bonita, importante e feita com prazer, para além das dificuldades extremas do mercado.

O segundo palestrante da tarde, Fabricio Garcia, seguiu pelo mesmo caminho de exibir a sua carreira com o tema “A arte de viver da fotografia sensual”. O fotógrafo exibiu suas fotos criativas de poses sensuais para mulheres, e deu dicas valiosas ao público de como seguir neste nicho da fotografia. Por exemplo, ele reforçou a importância de fazer fotos de detalhes pra poder publicar, onde não apareça o rosto da modelo. Afinal, nem sempre ela dá autorização para postar suas fotos sensuais na internet. Fabricio explicou que fotos assim até fazem mais sucesso, porque a mulher que está vendo se imagina naquele corpo sem rosto. O fotógrafo também ressaltou a importância de ter um portfólio de locações para a cliente escolher onde quer ser fotografada. Em sua experiência, as clientes preferem não ser fotografadas em suas residências.

Diferentemente da fotógrafa caxiense Thaynne Andrade, que desenvolveu um projeto fotográfico chamado de “Eu linda Aqui”. Nele, ela retrata a sensualidade feminina dentro da casa da cliente, ao mesmo tempo que registra o seu ambiente, o seu quarto, as suas roupas. Assim, a modelo se sente mais à vontade, na sua intimidade.

Estas diversidades de visões sobre uma fotografia tão afim, tão similar, apenas retrata que, tal como a professora Simonetta Persichetti disse no Congresso Fotografar 2018, há clientes para todo o tipo de fotógrafo e todo o tipo de fotografia. O mais importante é seguir a sua própria verdade, sem deixar clientes ou modismos ditarem todo o seu trabalho. Tal como diz Marcelo Peruzzo, se o aluno quer ensinar o professor, há algo de errado. O que nos conduz à próxima palestra do Congresso Go Image on Stage 2018.

Neuromarketing

Marcelo Peruzzo é doutor, palestrante, professor nas áreas de neuromarketing, neurogestão e marketing digital. Em uma palestra cheia de energia, na qual ele trouxe conceitos teóricos mesclados a exemplos práticos e mesmo piadas, Marcelo conseguiu passar uma boa mensagem aos fotógrafos: é preciso perceber a mente do seu cliente para entendê-lo e assim criar estratégias mais apropriadas.

“Pesquisas indicam que a decisão por impulso e inconsciente ocorre em 2.5 segundos. Esse é o tempo que vocês, fotógrafos, tem de impactar com sua foto. Entender o inconsciente é fundamental. O que cliente fala é diferente do que ele faz, pois o que ele fala é racional e consciente, mas ele age de acordo com seu subconsciente. Não adianta pesquisa, pois ela é racional. O cliente não manda no seu negócio. Se ele diz para fotógrafo o que tem que fazer, está errado. Se você vai para a aula e questiona o professor, então vai dar aula.” Marcelo Peruzzo

Baseado no cientista Richard Dawkins e seu livro “O gene egoísta”, Marcelo explicou o conceito de memes – que não são apenas as figuras que se disseminam rapidamente na internet. Na verdade, meme é qualquer informação que substitua, atualize, ou insira um comportamento na mente humana. Ele rege o nosso comportamento, e é muito difícil de ser substituído, pois está cristalizado em nossa mente. Para quem não tem meme gravado a respeito de um assunto, é mais fácil passar a informação. Por exemplo, é mais difícil vender fotos a quem sabe muito sobre o tema, pois esta pessoa já tem protetores no cérebro a respeito do assunto. As únicas maneiras de modificar um meme na mente é mexer com o aspecto de segurança ou relativo ao corpo. De acordo com o professor, a base para vender qualquer coisa é esta: mudar o meme baseado em segurança e fisiologia. Assim, se não se adaptar a memética do cliente, não se faz nada. Mas os fotógrafos saem na frente aqui, já que imagem é meme, e ela cristaliza emoções na mente das pessoas.

O palestrante mostrou um vídeo de como as crianças são impactadas pelos memes. Elas podiam escolher o que gostariam para o café da manhã: uma banana com a imagem do Homem Aranha, ou um bolo de chocolate sem figura alguma. Elas escolheram a banana. E chegaram ao ponto de preferirem uma pedra para comer, apenas porque tinha a imagem do Shrek.

Marcelo ainda se inseriu no clipe da música Psy, do coreano Gangnam Style, um dos vídeos mais assistidos do mundo. Mas ninguém da plateia notou sua presença de imediato, pois todos estavam mesmerizados em outras partes da tela. Assim, reforçou o palestrante, quem manda na foto é fotógrafo, não o cliente, porque ele não viu nada além do que o profissional queria. Este clipe, explicou, demonstrando os pontos onde recai o olhar do espectador de acordo com uma pesquisa, é um dos mais sensuais do mundo, mas você não percebe, é sutil. Porque o que é previsível não tem graça.

Baseado em gráficos e outras pesquisas, o palestrante explicou ainda que, para vender algo, é preciso que o cliente esteja insatisfeito e ativo. Por exemplo, uma mulher que vê o book de uma amiga, e ela não tem o seu próprio, e quer resolver essa sua insatisfação. É preciso, então, alterar o estado emocional do cliente para a insatisfação. É provar que a verdade que a pessoa quer para a sua vida, como ela quer aparecer, só você pode colocar no papel. O desejo é consequência, primeiro tem que descobrir a necessidade do cliente. Se não gostou da foto, é porque você não conseguiu captar lá no início a sua insatisfação. Isso tudo, de acordo com Marcelo, é biológico: tem uma dor que é uma insatisfação, tem o remédio, cura - fica feliz, não cura - fica triste. Baseado na neurociência, Marcelo afirmou que gostar ou não de uma foto já não é mais subjetivo. É possível saber que uma pessoa só olhou por 2 segundos para uma foto, enquanto só se atinge a excitação máxima com essa imagem em 4 segundos, por exemplo.

“Os fotógrafos são os gênios mágicos que trazem as emoções para o planeta Terra. E precisam fazer isso cada vez mais. Vocês não têm noção do quanto são responsáveis pelo mundo. Cada foto é forma única de representar a emoção humana.” Marcelo Peruzzo

Para concluir sua palestra, Marcelo ainda contou que, além de neurociência, ele se dedica a estudar para encontrar uma cura para uma doença genética que pode deixar a sua filha de 11 anos cega. Enquanto isso, ele está tentando mostrar a ela o máximo de lugares no mundo para, se um dia ela perder a visão, ela poder fechar os olhos e ter acesso a essas lembranças. E fez a plateia chorar ao exibir um vídeo da reação de sua filha ao descobrir que iria para Paris, tal como pedira ao pai. Sem dúvida, Marcelo atingiu a nossa emoção neste momento, alterando nosso meme, e desta forma não esqueceremos tão cedo desta palestra.

Fôlego

A terça-feira do Congresso Go Image on Stage 2018 trouxe ainda mais duas palestras. Luciene Pestana, que é brasileira mas mora nos Estados Unidos, palestrou sobre o seu sistema de vendas, chamado “IPS – In Person Sales”. Neste modelo, ela escolhe até 30 fotos de uma sessão, e vai até a casa do cliente mostrar pessoalmente. Ela também oferece produtos, não apenas a foto digital. Este produto é pago como um valor a parte do serviço. Ou seja, ela primeiramente cobra uma taxa de sessão, que inclui tempo e criatividade do fotógrafo. E depois vai cobrando separado os produtos, de acordo com o que o cliente escolher.

Aqui na Sala de Fotografia já trabalhamos com esse sistema de cobrar apenas a taxa de sessão, e depois agregar valor ao serviço com a venda da fotografia impressa, quase que exclusivamente nos fotolivros. Assim, há uma valorização do trabalho entregue, já que os álbuns contam histórias, criam uma narrativa. As montagens, então, tornam-se uma pequena coleção de imagens, nas quais delicadeza e harmonia combinam-se com fluidez.

A última palestra do dia ficou a cargo da Alboom, plataforma de sites para fotógrafos, que fez uma análise do que consiste a profissão fotógrafo. Por fim, a festa de happy hour encerrou o primeiro dia do congresso.

Segundo dia

A quarta-feira do Congresso iniciou com Marcio Prestes, que em sua palestra falou sobre “Acelere a sua pós-produção e tenha tempo para você”. O palestrante explicou o quanto é importante determinar o tempo de dedicação e serviço do fluxo de trabalho do fotógrafo.

Logo em seguida, Luana Santos trouxe a única palestra sobre newborn do evento, falando sobre composição e luz neste tipo de fotografia. A fotógrafa relatou que não queria mais que olhassem para sua foto e achassem apenas uma gracinha, queria sentimentos de verdade. Por isso, procurou nas fotos com a sua avó, que sempre foi a sua inspiração, uma paleta de cores para utilizar nas suas fotografias. Luana também trouxe referências de fotógrafos, como Julie Thies e Tarcísio Bino, explicando que se inspira em diversas áreas, inclusive em pintores famosos. Por fim, em uma parte mais prática, ela deu detalhes sobre os equipamentos de iluminação que utiliza em seu estúdio.

Mercado

O editor-chefe da revista Fhox Léo Saldanha trouxe em sua palestra “Tendências, ameaças e oportunidades” aspectos práticos sobre o mercado fotográfico, tanto em relação a novas tecnologias, quanto em relação ao marketing. Em um discurso muito ponderado e instrutivo, Léo explicou a importância de estar atualizado e de estudar o tempo todo, mas não esqueceu de ressaltar que o clássico ainda vale, seja na hora de fotografar, seja na hora do marketing boca a boca.

“Apenas 20% por cento do trabalho de um fotógafo é clique, o resto é gerenciamento, marketing, novidades. O mercado está em transformação o tempo todo. É preciso estudar sempre, porque o mercado se transforma, o próprio Instagram lança algo novo a cada duas semanas. Pode sim construir coisas novas, mas tem que estar de olho no mercado, porque senão você se perde no caminho. É fácil chegar aqui no congresso e dizer para vocês não seguirem tendências, pois isso signfica que está seguindo alguém e não fazendo algo genuinamente próprio. Mas na prática não é bem assim, é preciso estar atento ao que acontece.” Léo Saldanha

O palestrante ressaltou que, em eventos internacionais de fotografia, ele viu que neste momento há uma diminuição da fotografia de casamento e newborn – que aqueciam o mercado nos últimos anos. A tendência agora é o aumento da fotografia de retrato e autoral. Além disso, outro ponto forte é a inteligência artificial. Segundo Léo, no futuro, não vai mais se questionar sobre o ISO da câmera, mas sim sobre o seu QI, pois ela vai ser capaz de aprender de acordo com o uso.

“O que está acontecendo no mercado são muitas receitas prontas. Mas será que estamos fazendo as perguntas certas? Se o robô for capaz de fotografar, ainda vai ser necessário que você faça a parte criativa da fotografia. Os preços vão cair cada vez mais. Se preparem! Não sou presunçoso em dizer que sei qual é a resposta, cada um vai ter que encontrar a sua.” Léo Saldanha

Léo arrisca um palpite de possíveis caminhos a trilhar.

“Para onde vai a fotografia? A natalidade está caindo, menos bebês, mais formaturas. Casamentos e festas de aniversário em transformação. Formatura é um nicho com muita oportunidade e péssima qualidade no Brasil. Muitos fotógrafos de casamento estão indo agora para formatura, eles fotografam muito bem. Como vai justificar fotos de casamento cada vez mais caras, enquanto festas têm se tornado cada vez mais simples?” Léo Saldanha

Ele ainda trouxe diversos exemplos de fotógrafos que estão fazendo coisas diferentes para se sobressaírem no mercado, se destacando em meio a forte concorrência, desde alguém que fotografa debaixo d`água, até quem mostra como transformou um ambiente comum em uma foto espetacular. Redes sociais vendem, ser notícia em veículos de imprensa ajuda no trabalho de venda do fotógrafo, mas o boca a boca ainda corresponde a 80% das vendas, informa o editor-chefe da Fhox.

“Não se pode esquecer da força do clássico, do tradicional. O clássico é atemporal, tem força independente do momento. Posso falar de tendência e tecnologia, mas clássico tem sua importância. Respeite sua identidade, saiba quem você é. Pergunte a si mesmo: sou

um fotógrafo mais clássico ou mais moderno?” Léo Saldanha

Além disso, Léo reforçou a importância de imprimir fotos. Quando tudo está muito virtual, o que pode ser tocado ganha força como uma experiência. Inclusive, ter um estúdio próprio confere credibilidade ao negócio.

“Se parar de imprimir, não vai mais ter mercado da fotografia. Para valorizar, precisa que foto seja impressa, é o que justifica. São os fotógrafos os agentes da venda do papel, vocês chegam nas famílias e mostram a importância da memória.” Léo Saldanha

Para finalizar, Léo trouxe diversas dicas de livros para a plateia. Baseado nestes livros, ele ressaltou que a gente aprende errando. Sendo assim, ele acredita que o mercado fotográfico precisa mostrar mais os erros, já que é difícil eventos como congressos mostrarem os fracassos. Concordamos com Léo neste ponto. Por mais motivador que seja quando um palestrante exibe uma trajetória de sucesso, demonstrando como ele ama o que faz, também há de se compreender a realidade e a importância do esforço e da persistência neste mercado tão competitivo e em transformação como o da fotografia.

Últimas palestras

Junior Luz iniciou as palestras da tarde do congresso, falando sobre “Criatividade no mercado”. O fotógrafo produz imagens autorais cheias de surrealismo, inserindo seus personagens em uma super produção. Ele contou sobre sua trajetória e a forma criativa com a qual faz os seus retratos. Junior também foi aplaudido de pé. Ao final, ele divulgou seu workshop – e esta é uma tendência que temos vistos em muitos fotógrafos que utilizam da sua expertise para ampliar seu leque de atuação.

Logo depois, o português Sérgio Nogueira falou sobre “Pós-produção: dê força à sua mensagem”. Em uma ótima palestra, ele explicou aspectos práticos do Lightroom, dando dicas e trazendo conceitos importantes sobre edição.

“A pós-produção é atemporal, independente de programa. Temos esse conceito que antigamente os fotógrafos eram bons porque não existia Photoshop. Mas eles também tinham técnicas de pós-produção. Acredito que 50% é feito na hora de fotografar, os outros 50% de uma imagem cabem à edição. Todas as fotos têm coisas a serem melhoradas, sem exceção. Por melhor que seja minha pós-produção, nunca vou ter uma foto boa se não fizer bem os 50% iniciais.” Sérgio Nogueira

Sérgio ainda trouxe muitas dicas para serem pensadas antes mesmo de começar a edição das fotos.

“Ao fotografar, faça fotometria nas altas luzes, faça balanço de branco personalizado. Cuidado com modismos, a foto pode ser atemporal. Nosso trabalho não é só pra hoje, é pra noivos, filhos e netos. Use presets - mas não fique refém deles, porque pode ficar carnaval. Calibre a sua tela. Em uma série de fotos, todas as imagens precisam seguir um mesmo padrão de cor. Não estou falando do que é bonito ou feio, mas de ser sempre uma mesma linguagem.” Sérgio Nogueira

Após Sérgio, o Focare estúdio emendou o tema que fugiu dos cliques de um fotógrafo, e se aprofundou no fluxo de trabalho, explicando como eles se organizam para manter a sua produção funcionando com o menor tempo possível.

Magnum e poesia

Outra palestra que foi aplaudida de pé no congresso foi a de Roberta Tavares e Dan Immel, membros da Magnum Caravan Brasil - extensão do programa educacional e cultural da agência Magnum Photos em diferentes cidades brasileiras. A dupla trouxe a Caxias do Sul a palestra que vimos na Feira Fotografar, em São Paulo, em março de 2018.

“Um conselho pra fotógrafos emergentes da Magnum seria: o mundo está cheio de boas ideias, mas falta completar estas boas ideias. Isso por causa do medo. E como medo se manifesta? A mente criativa lida com resultados incertos o tempo inteiro. É o post que acha que ninguém vai ver, a exposição que ninguém vai ir. O cérebro é o maior sabotador de ideias, sempre te apontando os impossíveis. Ele pensa: vou ser ridicularizado, não sou bom o bastante, todos já fizeram melhor, minha ideia não faz diferença na vida de ninguém. Tenho medo porque vão rir de mim, sou novo demais, ou sou velho demais, minhas ideias nunca deram certo, por que vão dar certo agora? Você precisa mudar esta relação com o medo. A gente sempre tenta vencer o medo. Mas o medo e o tempo nunca vamos vencer, são batalhas perdidas. Então você muda, e vê medo como passageiro criativo necessário. Quando você ver ele, diga: medo, você vai entrar na minha festa. Sou agradecida por me mostrar tudo, por querer me proteger. Mas você não tem voz, vai sentar e ficar caladinho. E eu sei que você vai querer gritar, mas eu e a criatividade não vamos estar ouvindo. Mesmo que os convidados não venham, mesmo que tudo dê errado, teremos o prazer de chegar até aqui. Pelo menos nos divertimos.” Roberta Tavares

Por fim, para encerrar o congresso, Rafael Benevides trouxe uma palestra cheia de meditação, poesia e música. Entre recitação de poesias, músicas que ele tocou e cantou ao violão, o fotógrafo narrou a sua trajetória. Contou que acreditava que quando tivesse a luz perfeita, uma ótima composição e uma direção incrível, suas fotos seriam o máximo. Mas quando alcançou estes elementos, não se sentiu satisfeito, e por isso foi estudar para entender as imagens. Aprendeu a ler fotografias, e não apenas a observar. Agora, ele só fotografa casais reais, e ouve por horas suas histórias antes de entrar em estúdio. Nestes diálogos, traz à tona histórias da infância, do passado, presente e futuro.

“Posso impregnar minhas fotos de coisas não efêmeras e transformadoras para as pessoas. Não é luz, não é composição, não é a fotografia. O que importa realmente são as pessoas. Você fotografa vida real? Pois, como diz o poeta, rir de tudo é desespero. Vida real é mais que momentos felizes. Somos feitos de tudo que recebemos, e também das lacunas, do que não recebemos. Você precisa chegar perto das pessoas, no sentido de envolvimento.” Rafael Benevides

Rafael foi embalando a plateia, falando devagar, fazendo exercícios de meditação, mesclados a vídeos emocionantes que produziu a partir de suas fotografias.

“O que antes era rotina, agora é saudade. Nós fotógrafos precisamos adivinhar do que as pessoas vão sentir falta no futuro, pra registrar isso no presente. Minha fotografia é uma máquina do tempo. Na busca do autoral, precisamos nos conectar com coisas que ficaram pra trás. E essa busca pode ser muito feliz. Porque quando a gente é criança a gente já sabe que é único, antes das pressões sociais que nos dizem que temos que ser bons, melhores, famosos, mais likes. Minha foto percorre esses caminhos, que é máquina do tempo, vai pro passado, também avança pro futuro e pro presente.” Rafael Benevides

Depois de palestras para tirar a plateia da zona de conforto, como mostrar a real do mercado, deixando a todos ansiosos pra tudo que precisamos saber, ou ainda depois da densidade das lições da Magnum, ou como precisamos aprender sobre neuromarketing, tivemos o bálsamo de Rafael Benevides pra nos reconectar. Foi um encerramento que veio para trazer poesia e música mais que conhecimentos tangíveis sobre a fotografia, em um formato inusitado, pra acalmar, pra lembrar que as coisas desimportantes também importam. Pra meditar, pra nos lembrarmos da nossa infância, onde o tempo era diferente e onde não tínhamos ansiedade, pra nos lembrar de sonharmos com simplicidade, muito mais do que apenas produzir para o mercado.

O Congresso Go Image On Stage, neste ano, conseguiu alcançar diversas dimensões do que é ser um fotógrafo. O conteúdo foi de uma quantidade e densidade por vezes atordoante. Talvez, para os próximos anos, possa-se pensar em mais tempo para cada palestra, para não se perder a concentração e ampliar o networking nas pausas em formato de coffee breaks. Detalhes, apenas, em um evento que vem reunindo boa parte da comunidade da fotografia gaúcha.

Texto: Sabrina Didoné (jornalista - 0018277/RS) e Liliane Giordano (mestre em Educação: arte, linguagem e tecnologia)

Fotos: Liliane Giordano

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