A fotografia está ocupando um papel tão fundamental na sociedade contemporânea que agora ela se reveste não mais apenas do conceito de “isso foi”, registrando sempre um instante do passado, como sugeriu o teórico Roland Barthes. Atualmente, o mundo das imagens, quando olha para questões prementes do nosso presente, adquire um contorno de “o que será”, projetando o futuro. Este foi o conceito mais importante que apreendemos do festival Paraty em Foco 2018, que tinha como tema “Fotografia: Utopia / Distopia”. Érico Elias explicou muito bem no blog do evento a ideia do conceito:
“Quando as fotografias adentram criticamente no debate público, elas permitem mobilizar em torno de projetos de emancipação, sua função Utópica. Quando elas se limitam a reproduzir protocolos ou quando exibem o desenho de um futuro cruel, assumem uma função Distópica.” Érico Elias, fonte aqui)
A 14ª edição do festival ocorreu entre os dias 19 e 23 de setembro, na turística cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. Trazendo diversos fotógrafos, provenientes de diversas áreas, o evento apresentou uma multiplicidade de olhares e de projetos, sempre na linha da utopia e/ou da distopia, de uma forma muito bem costurada. O projeto curatorial do Paraty em Foco, não é de hoje, é um dos melhores que já vimos nos festivais de fotografia do país. Estivemos por lá em 2015 e também em 2017. Neste ano, a Sala de Fotografia não pode estar presente, mas acompanhamos pelo Facebook as transmissões ao vivo de diversas mesas. Confira abaixo um pouco do que assistimos.
Primeiras mesas
A abertura do Paraty em Foco na quarta à noite trouxe Flor Garduño, uma das maiores referências da fotografia mexicana atual. Flor apresentou suas fotos ligadas ao mito, ao universo animal, aos índios. Contou histórias a respeito de cada foto que exibiu, coleção esta que desenvolveu nas últimas três décadas. No seu projeto Trilogia, são três séries: Bestiarium, Mulheres Fantásticas e Natureza Silenciosa. Confira algumas fotos suas aqui.
Ao ser questionada sobre as suas referências por Rosely Nakagawa, que comandou a mesa intitulada “Antropologia Onírica”, Flor citou os artistas Rembrant e Caravaggio como inspirações que apuraram seu olhar. Ou seja: como sempre afirmamos, tudo conta e inspira na hora da fotografia, e o estudo de luz que os grandes mestres pintores desenvolveram até hoje podem servir de aprendizado para fotógrafos.
Já a primeira mesa da quinta-feira trouxe ao festival dois fotojornalistas, na mesa “Brasil: ontem, hoje e amanhã”, com Luiz Morier e Marcos Santilli - por Monica Zarattini.
Marcos Santilli contou sobre o seu projeto das transformações agrícolas e de ocupação do espaço em Rondônia, que iniciou na década de 1970 e prossegue até hoje. O fotógrafo relatou que trabalhava na editora Abril, e foi designado para uma reportagem na Amazônia. Lá, ele testemunhou a chegada dos migrantes do Sul do país em terras do governo. Ele percebeu, assim, que era a sociedade industrial se colocando sobre as sociedades tradicionais dessa região, como índios, seringueiros, garimpeiros, ribeirinhos, populações tradicionais da Amazônia. Ao entender que ia ocorrer uma transformação muito grande naquele território, resolveu começar a fotografar para um projeto pessoal. De acordo com Marcos, esta área de terra foi transformada com a maior rapidez na história da humanidade: em toda a sua história, nunca uma região se transformou uma tão rápido quanto aconteceu em Rondônia. Confira fotos de Marcos no site do festival.
“O meu trabalho foi se desenvolvendo em vários subtemas. Um subtema são os índios, outro foi a ferrovia Madeira-Mamoré, que foi a primeira chegada do que chamamos civilização nessa região, e que impactou profundamente esses povos que lá viviam. E aí começaram a chegar caminhões e caminhões com famílias, um dia contei mais de 40 caminhões cheios de gente, imigrantes. Meu trabalho é sobre isso. Trabalho que conta como uma área virgem, primitiva, da Idade da Pedra Lascada, de repente se torna uma região industrial, transformando seus hábitos, sua economia, sua cultura profundamente. Fui buscar essa história das sociedades primitivas se transformando, a chegada dos primeiros colonos…” Marcos Santilli
O convidado seguinte da mesa, Luiz Morier, sempre atuou como fotojornalista, inclusive é o único repórter fotográfico do Brasil a ganhar por duas vezes o Prêmio Esso de Jornalismo. O fotógrafo contou que sempre quis denunciar o que ocorria de errado na sociedade, e escolheu fazer isso através da imagem. Luiz foi exibindo diversas fotos suas, e o que ficou claro é que ele tem um senso de oportunidade único. Um exemplo disto é quando fotografou uma mulher que caiu em um enorme buraco na rua - mesmo quando sua pauta era sobre o som – e que foi primeira página do jornal no dia seguinte.
“A gente sai do jornal com a pauta, pra fazer uma matéria. E no meio é que você vê a coisa acontecer. Porque quando você vai fazer aquela pauta que todo mundo já sabe o que está acontecendo, chega lá e já vai ter acontecido, pode até ter uma cena, mas já aconteceu. Mas quando você está no meio do caminho, algo ainda pode acontecer. Fotojornalismo é isso: é você ver o acontecimento na sua frente. E não pode perder, tem que registrar.” Luiz Morier
O fotógrafo contou muitas outras histórias de pautas marcantes para ele, como a de uma família de moradores de rua que comiam ratos em Recife: o prefeito tinha prometido um quilo de carne pra quem levasse um quilo de ratos mortos, para acabar com a infestação nas ruas da cidade. Mas estas pessoas assavam e comiam os ratos. Ou ainda a história da foto que lhe rendeu seu segundo Prêmio Esso: a pauta era passeio com turistas, pois estava na moda andar de jipe sem capota no Rio de Janeiro. Nisso entraram dois assaltantes, e Luiz fez a sequência de fotos do assalto. Levaram a sua câmera, mas ele conseguiu tirar e esconder o filme. O guia reagiu, mas ele se colocou na frente para os bandidos poupá-lo. Veja diversas fotos de Luiz neste link.
“Quem está atrás da câmera está sentindo a emoção toda daquilo que está acontecendo. Adrenalina, às vezes felicidade: você fica feliz com aquilo que está acontecendo, porque também tem isso. E a gente quando consegue passar uma emoção pela imagem que faz, é legal. A fotografia pra mim é isso: você passar a sua emoção, a sua visão pra quem vai ver.” Luiz Morier
Para a Sala de Fotografia, ficou claro que tanto as fotos de Marcos quanto de Luiz exibem um caráter da distopia que fazia parte do tema do festival deste ano. Ao retratar um presente de denúncias e de mudanças de um estilo de vida, suas fotos caracterizam um futuro passível de estar repleto de problemas. Mas o trabalho que eles prestam, apesar de apontar para esta direção de desesperança, trazem em seu cerne a ideologia de acreditar que, ao documentar, registrar, mostrar e apontar, pode-se mudar algo e ter um impacto para melhorar esse futuro.
“O objetivo é a gente denunciar. E é muito arriscada essa denúncia. Tive momentos de até a polícia apontar a arma pra mim e dizer: se fotografar, te mato. Em 77, quando fazia faculdade de jornalismo, quando comecei a trabalhar no Última Hora, eu podia escrever, mas optei por fotografar. Meu objetivo era mostrar o que estava errado a partir da imagem.” Luiz Morier
E, sim, pode sim haver resultados práticos destas denúncias. Luiz auxiliou na queda do governo do Estado ao fazer a foto que lhe rendeu o primeiro Prêmio Esso, na qual um policial segurava a corda onde estavam presos vários homens negros. A foto, com o título “Todos Negros”, de 1983, mostrava presos que pareciam escravos – sua acusação era a de vadiagem, pois estavam apenas jogando futebol, e mesmo tentando provar que eram trabalhadores, foram presos.
Já Marcos foi um dos primeiros a levantar a bandeira da defesa do meio ambiente em reportagens, ajudando a deixar este um assunto corriqueiro.
“Nessa época não se falava na devastação ambiental. Fui um dos primeiros a fazer essa pauta. Essa reportagem da Veja foi a primeira que juntava colonização, garimpos, construção das estradas… minha intenção era mostrar o que não era mostrado, e um pouco de paixão pela questão ambiental. E era muito difícil, a segunda vez que voltei a Rondônia, depois da matéria, as pessoas queriam me bater. Tive que sair disfarçado. Você mostrava, mas o risco era seu, sobrava para você. Era um risco grande, mas era uma coisa gostosa também, porque você acreditava no que estava fazendo, e sabia que estava do lado bom da história. Eu acho que participei pra deixar isso um assunto comum.” Marcos Santilli
História
A mesa “Missões Fotográficas”, da quinta-feira do Paraty em Foco, trouxe Marcelo Greco e Monica Zarattini, por Keyna Eleison. Quem começou a fala foi Marcelo, e sua palestra foi uma verdadeira aula de história sobre um capítulo importante para a linha do tempo da fotografia: as missões fotográficas. Marcelo começou explicando o conceito.
“Missão fotográfica é um projeto criado por uma instituição pública ou privada, que agrega um conjunto de artistas - normalmente é um coletivo, no qual se estabelece uma proposta de exploração de um território e de todas as transformações sócio-culturais que esse território sofre ou sofreu. Nele, os fotógrafos têm total liberdade, sempre dentro de direção do projeto, e artistas são proprietários das obras, mas tem que ter clareza e consciência da sua responsabilidade política e social. Não existe um compromisso de ser um território que já conheça, muito pelo contrário.” Marcelo Greco
O fotógrafo explicou ainda que a primeira missão fotográfica que se tem notícia ocorreu em 1851 – pouco depois da invenção da fotografia, que data de 1839. Nesta época, a foto tinha um caráter científico, e foi por meio de uma sociedade com interesse em fotografia e ciência que nasceu o projeto de convidar cinco artistas – que depois vieram a ser fotógrafos, para traçar cinco rotas distintas cruzando a França com o objetivo de registrar monumentos históricos em ruínas. O resultado disso foram 250 ampliações e negativos, o que é um volume absurdo para a época. O material ficou guardado, e somente em 2002 se fez um livro deste projeto. Este grupo que promoveu a missão fotográfica conseguiu criar, então, uma conexão entre artistas e cientistas, fazendo com que a fotografia, naquele momento, fosse considerada como uma ferramenta de manifestação artística, e não apenas de documentação.
Para Marcelo, o interessante desta sociedade é que seus integrantes foram os primeiros a criar um periódico sobre fotografia, chamado La Lumiere. Foi no âmbito dessa sociedade que o fotógrafo Blanquart Evrard desenvolveu o conceito de livro fotográfico e desenvolveu as técnicas e as formas de produção para a viabilização de livros fotográficos. Aqui no Brasil, ainda de acordo com o palestrante, tem-se pouquíssimo conhecimento sobre ele, que é extremamente importante para a história do livro de fotografia.
Depois desta missão, há um grande intervalo de tempo até a próxima, a Missão Datar, que só viria a ocorrer na década de 1980. Durante cinco anos, 36 fotógrafos de diversos lugares do mundo – com o interesse de buscar o olhar estrangeiro sobre o território francês – registraram as transformações deste espaço como um todo, pois ali se vivia um período de grandes mudanças sócio-culturais devido a proximidade da formação da comunidade europeia. Um exemplo disso foi a desativação de muitas indústrias pesadas na França, já que esse tipo de atividade passaria para países europeus periféricos. Muitas questões estavam no ar, e que surgiram como alicerces da missão para cada fotógrafo realizar o seu trabalho, como: com o que essas pessoas das indústrias vão trabalhar? Que movimentos culturais e de migração vão ser gerados? Ao fim, foram geradas duas mil ampliações como resultado deste projeto. Nomes como do italiano Robert Doisneau, Gabriele Basilico, participaram do projeto.
Do norte da França veio uma das missões fotográficas mais importantes da história. A região, na década de 1980, neste mesmo contexto, passava por um momento de desindustrialização de uma forma muito forte, pois era a sede da indústria pesada francesa, causando um grande problema de desorganização social. Além disso, estavam ocorrendo muitas outras transformações, pois com a União Europeia, ali iam se instalar os trens que ligariam Paris e Londres, e Oriente e Ocidente europeus.
Assim, Pierre Devin, fotógrafo e diretor artístico, criou um centro de fotografia no norte da França, chamado “Centre Regional de La Photographie Nord-pas-de-calais”, que procurava a recuperação de acervo fotográfico dessa região. Foi este o centro responsável por criar uma missão fotográfica chamada “Mission Photographic Transmanche” (MPT), que durou 20 anos – de 1986 a 2006, e que gerou a maior documentação da história da França. Foram convidados 28 fotógrafos, e se criaram 27 catálogos, originando uma coleção na qual cada artista tinha o seu catálogo, com a temática livre.
“Esse projeto da Mission Photographic Transmanche é fantástico, é monstruosa a importância que isso tem pra história da fotografia francesa. Seus catálogos são comercializados até hoje pelo site do Centro. Primava-se pela qualidade de impressão que honrasse o trabalho do fotógrafo.” Marcelo Greco
Um dos fotógrafos que participou da missão fotográfica foi o francês Bernard Plossu – que hoje, de acordo com Marcelo, é talvez um dos fotógrafos vivos franceses mais importantes. Plossu resolve fazer o percurso de Paris a Londres de trem, indo e voltando no mesmo dia, para registrar a transformação da paisagem de quem antes ia de carro, captando a paisagem que se transforma. Junto com ele foi o escritor francês Michel Butor, que fez textos para o catálogo. Publicado em 1988, foi extremamente criticado pelo projeto gráfico, que continha ampliações e negativos, mostrando a paisagem que não consegue se fixar porque o trem segue a 300km por hora. Para Marcelo, o que Plossu fez é uma citação poética visual das paisagens que a gente não consegue fixar pela velocidade. Criticado à época, o catálogo hoje é objeto de colecionador. Confira algumas fotos do catálogo neste link.
Outro fotógrafo que participou da missão foi o inglês Martin Parr – hoje ele é um ícone da fotografia mundial, mas na época ainda não tinha conquistado o reconhecimento. Ele também fez um projeto de um dia só, tal como Plossu. Na época, era mais barato para um inglês ir de balsa para a França para comprar bebidas alcoólicas, do que comprar na Inglaterra. Com sua ironia e cinismo tradicionais, o fotógrafo fez um trabalho incrível dessa movimentação de pessoas que partiam em busca de bebidas do outro lado do Canal da Mancha. Confira algumas fotos do catálogo de Martin neste link.
O fotógrafo tcheco Josef Koudelka também foi um dos convidados da missão. Ele resolveu registrar as marcas da Segunda Guerra Mundial neste território. Nesta região da França ocorreram grandes conflitos, e continua sendo onde a imigração do leste europeu entra na França, então é uma zona de muitos conflitos. Josef fez um catálogo em formato de sanfona com o resultado de seu trabalho, confira algumas fotos neste link.
Já Lewis Baltz, artista plástico alemão, fez um catálogo com formato diferente para deixar claro que fez instalação que usava fotografia, mas não era um livro de ensaio fotográfico como os demais. Seu trabalho foi sobre os sistemas de vigilância que estavam sendo implantados na cultura e na sociedade urbana francesa da época, com câmeras e sistemas de controle da nossa em tese livre circulação. Confira algumas fotos do catálogo neste link.
Outro projeto diferente foi o do artista polonês Wojciech Prazmowski. Seu trabalho utilizou materiais antigos daquela própria região, fazendo intervenções e criando novas obras. Wojciech pegou a frente e o verso de cartões postais, por exemplo, e transformou numa única imagem, colocando selos, nomes, tudo numa imagem só. Confira algumas fotos do catálogo neste link.
“Essa é uma característica interessante desta missão: ela foi muito ampla no uso da fotografia, e na questão da oportunidade de diversas manifestações diferentes com a imagem fotográfica”. Marcelo Greco
A única brasileira a participar dessa missão foi a fotógrafa Fabiane Figueiredo, em 2006. Ela fez seu trabalho sobre a imigração dessa região. Confira algumas fotos do catálogo neste link.
Fabiane é esposa de Pierre Devin – o fotógrafo criador do Centro que deu origem a Mission Photographic Transmanche. Ao se aposentar, Pierre foi morar na Provença, onde criou uma nova missão fotográfica, chamada “Lance Ventoux”. O projeto assumiu caráter bi-nacional, entre Brasil e França, que iniciou em 2014 e continua até hoje. A região da Provença também sofreu transformações muito fortes, com êxodo rural na década de 1980. Atualmente, há um fluxo de ricos europeus que compram casas nessas cidades medievais abandonadas, e as usam para veraneio. Estas cidades existem apenas para o turismo, no inverno não há ninguém, mas no verão há gente demais. E isso acarreta muitos problemas e mudanças, como grandes mercados extinguindo pequenos comércios locais. Marcelo participou deste projeto, confira algumas fotos dele para esta missão neste link.
Este projeto, por ser um intercâmbio entre dois países, agora suscita a ideia de fazer duas novas missões fotográficas, desta vez, no Brasil: a Missão São Francisco, no rio de mesmo nome, e a Missão Saint-Hilaire, que cogita fotografar o percurso feito pelo botânico do século 19 que veio ao Brasil como pesquisador da flora.
A outra integrante da mesa “Missões Fotográficas”, Monica Zarattini foi mais uma das fotojornalistas convidadas pelo festival Paraty em Foco. A fotógrafa realizou duas missões fotográficas a Canudos, no sertão da Bahia. Sua primeira vez lá foi em 1989, para uma pauta do Jornal Estado de S. Paulo devido aos 80 anos da morte de Euclides da Cunha, autor do clássico livro “Os Sertões”, e que também foi repórter do Estado. Nesta pauta, Monica refez o trajeto dele na quarta expedição da Guerra de Canudos – que foi a definitiva, quando o governo finalmente conseguiu esmagar o vilarejo comandando pelo beato Antonio Conselheiro. Nas outras três anteriores, os soldados foram expulsos com paus e pedras. Por fim, morreram 20 mil pessoas e 5 mil soldados, em 1897.
Em 2016, 27 anos depois da sua pauta, Monica voltou ao mesmo lugar para rever as pessoas que encontrou na sua primeira viagem, a fim de fotografar de forma mais livre. Projetou suas fotos antigas nas casas dessas pessoas, e foi fotografando atualmente. No fim, a fotógrafa fez um livro como resultado das suas duas missões fotográficas, na qual as fotos da década de 80 e as atuais aparecem lado a lado para demonstrar a passagem do tempo. A fotógrafa contou que, quando pensou em expor as fotos do livro, não quis que fosse em um museu.
“Vou expôr em museu? Não, vou expor nas ocupações, porque Canudos foi uma ocupação, foi uma luta por terra, de um povo que não tinha onde viver, mas quando passaram a viver bem, o exército foi lá e dizimou.” Monica Zarattini
Assim, a fotógrafa, por meio de financiamento coletivo, fez banners com as fotos e colocou nas fachadas das residências com ocupações de pessoas que não têm onde morar em São Paulo. Segundo Monica, ela quis fazer um encontro da fotografia com pessoas das ocupações que lutam por moradia. Afinal, algumas são nordestinas, mas seus filhos, nascidos em São Paulo, não sabem o que é o Nordeste, e esta era a sua chance de mostrar a eles as paisagens e o que é a caatinga.
Escolas
A quinta-feira do Paraty em Foco também trouxe o curador Eder Chiodetto – que está retornando a sua atividade de fotógrafo com o livro que também intitula a mesa “Ser Diretor”. Sua palestra foi conduzida por Ângela Magalhães e Nadja Peregrino.
Eder contou que, ainda em 2002, desenvolveu uma pauta para o jornal Folha de São Paulo na qual fotografou 36 escritores brasileiros no lugar onde eles escreviam. Depois, acabou transcendendo a pauta, e fez livro “O lugar do escritor”, que ganhou o prêmio Jabuti, e lhe inspirou a sair do jornal para trabalhar em projetos pessoais. Quinze anos depois do lançamento desta obra, o Instituto Unibanco o procurou com a ideia de fazer um novo livro, mas desta vez substituindo os escritores por diretores de escola. A instituição, que há 15 anos trabalha com ações para melhorar o ensino público no Brasil, criou o projeto Jovem de Futuro, que em parceria com secretarias de educação dos estados oferece cursos de capacitação para gestores e alunos, oficinas, grupos estudantis, entre outras ações.
Este projeto já foi implantado em seis estados, os quais Eder percorreu cinco escolas em cada, durante sete meses de trabalho. O resultado é um livro cheio de imagens e entrevistas que o fotógrafo fez com os diretores, e que está disponível neste link.
Eder contou diversas histórias do que viu durante o projeto, como de uma escola em Santarém, no Pará, na qual o muro caiu há dez anos, e assim a diretora precisa negociar para que traficantes não invadam a escola. Quando começaram a desaparecer somente as lâmpadas da escola, sem que nada mais fosse furtado, ela ficou sabendo que os traficantes as roubavam para moer junto com a cocaína e aumentar seus lucros.
“É um ensaio que tem uma certa densidade, na verdade, tenta radiografar um pouco o estado de espírito da atual educação no Brasil. Tem muita gente incrível batalhando contra toda adversidade para tentar melhorar o nível do ensino, mas nada contra uma corrente fortíssima com a falta de estímulo, falta de cursos continuados para professores, sem falar dos baixíssimos salários”. Eder Chiodetto
Nos textos e entrevistas com diretores, também há soluções, e não apenas uma apresentação dos problemas ou denúncias. De acordo com Eder, muitas falas também são emocionantes, com histórias e soluções simples e incríveis.
“Na minha trajetória, trabalho com artistas de diversos motivos, desde foto experimental, abstrata, conceituação muito forte, e também com documentaristas. A minha escola foi o fotojornalismo. Mas nos grupos de estudo lá em São Paulo eu gosto muito quando mistura fotógrafos dessas duas correntes, digamos assim. Porque no fundo a gente está sempre tentando buscar uma expressão mais legítima possível, a partir de uma certa sensibilidade. Quando vou pra esse projeto, e tenho esse flashback emocional, pensei que não podia fotografar de um lugar que não seja o dessa emoção e pensando numa fotografia de um caráter mais sensorial mesmo. Nunca acreditei numa fotografia documental que é um dedo duro apontado para a realidade, ‘ah, isso é assim’. A escola é um universo de muitas dificuldades, de gente incrível, todas juntas nessas complexidades.” Eder Chiodetto
Mesmo sendo curador, e estando acostumado à edição de imagens, Eder relatou que teve dificuldades na hora de escolher as suas fotos para o seu livro. Em um primeiro momento, acreditou que poderia fazer sozinho, mas depois percebeu que precisaria de uma opinião de fora, já que a sua experiência na hora da foto acabava atrapalhando o processo.
Delírio visual
O incrível trabalho do fotógrafo francês Nicolas Henry esteve na mesa “Tecer o Futuro”, comandada por Mickele Petruccelli. Nicolas já rodou o mundo para construir o seu projeto “A Cabana de Nossos Avós”. Nele, convida avós de diferentes vilarejos para contarem histórias. A partir desses relatos, Nicolas cria imagens construídas com elementos e encenações que envolvem toda a população local. O resultado são fotografias que brincam na fronteira do imaginário, mas que tem muito de resgate de um modo de vida tradicional, adentrando diretamente no tema da utopia do Paraty em Foco deste ano. Confira neste link diversas fotos de Nicolas.
O fotógrafo francês contou que a ideia para o projeto surgiu quando tinha 20 anos, ele visitava a sua avó e se perguntava sobre o que iria conversar com ela. Quando precisou fazer uma foto para a universidade, fez um pequeno teatro com ela, aproveitando os elementos que ela fazia à mão, como almofadas, capa para sofás, costuras diversas. E a foto agradou, justamente pela sua dimensão humana. Depois disso, ampliou o projeto, pensando em colher a palavra de avós em muitos lugares, questionando o que tinha mudado no mundo desde quando eram crianças até então.
Ele também criou um outro projeto, que se chama “Cabanas Imaginárias ao Redor do Mundo”. Essa ideia surgiu quando Nicolas estava preparando uma foto em uma região com duas cidades, uma hindu, e outra budista. O fotógrafo contou que colocou saris vermelhos – que é um símbolo hindu – em uma árvore de uma forma como se fossem bandeiras de orações budistas no Tibet. Nesse momento, as duas comunidades vieram, os hindus desceram, os budistas subiram, e se encontraram no momento que essa foto ia ser feita. Isso gerou todo um diálogo, que ultrapassou todo o ponto de vista conceitual da representação teatral, e finalmente o momento fotográfico se tornou mais importante que a própria fotografia. Nicolas contou que quase abandonou a ideia de fazer a foto para que a comunidade pudesse conversar. Foi esse momento que propiciou um diálogo - que se transformou em um debate - que deu origem a um novo projeto – o das cabanas imaginárias. A foto em questão é esta do link.
O que Nicolas relata aqui é um conceito que aprendemos com o próprio Paraty em Foco em 2015: o resultado das imagens não é mais o único objetivo da fotografia, não é o único aspecto para o qual devemos olhar. Em um mundo imagético, conta muito mais a análise da produção, do contexto da história de como isso chegou até ali, do que o resultado fotográfico em si. E os resultados que o fotógrafo francês alcança são de fato incríveis. Com muita imaginação e simbiose, ele cria verdadeiros quadros cheios de simbolismos e significados. Ao longo de sua palestra, ele foi exibindo outras fotos do projeto Cabanas Imaginárias, e contando o contexto de cada produção. Um exemplo foi uma foto criada por ele no Senegal, que aparece um bote com tripulantes em um mar de cobertores. A ideia foi refletir sobre a situação no Mar Mediterrâneo, com uma quantidade enorme de imigrantes que morrem no mar. O fotógrafo acredita que temos o dever de nos colocar essa questão: quando uma pessoa se encontra abandonada no mar, o que podemos fazer, podemos salvá-la?
“O grande objetivo do projeto das Cabanas Imaginárias é a tomada da palavra. Ele tem o objetivo de ser aquele que vai funcionar como um transmissor, permitir que as pessoas possam se expressar e que elas possam falar, essas pessoas do mundo inteiro, das dificuldades que elas têm, das alegrias. E há diversos capítulos: há capítulos sobre a colonização, sobre a violência, mas há capítulo também, por exemplo, do direito de escolher o próprio amor, pois no mundo metade das pessoas não têm a possibilidade de escolher aquele ou aquela que eles querem ficar. Há também um capítulo sobre o direito das mulheres, e sobre as crianças. Então o que quis transmitir nesse projeto foi justamente um percurso que vai desde a infância até a morte em diversos países e em diversas comunidades. O porquê deste projeto é buscar as semelhanças que existem entre os países e as comunidades para que possamos nos compreender melhor, e consequentemente ter menos medo, menos apreensão com relação ao futuro – um futuro sem guerra, sem violência e com muita esperança.” Nicolas Henry
O professor, fotógrafo e curador Mickele Petruccelli, convidado que comandou a mesa de Nicolas, explicou muito bem o trabalho do fotógrafo. Para ele, o resultado de seus projetos é emocionante.
“O trabalho dele é incrível, esplendoroso, a memória coletiva e a reencenação das tradições locais, é quase um delírio visual. Porém eu acho importantíssimo não se deixar levar pela grandiosidade de toda a cena, e deixar de prestar atenção em um ponto que pra mim é fundamental: que por trás de tudo isso existe um trabalho de documentação. E esse trabalho que envolve o resgate de memória e identidade são fundamentais para você poder tecer um futuro mais amoroso, mais harmonioso e mais sustentável.” Mickele Petruccelli
Adentrando no contexto da documentação na fotografia, Mickele aprofundou sua fala, refletindo que sempre existiu uma tradição ligada à fotografia documental que determina uma série de características e regras, apresentando assim um conflito com fotografias encenadas. Mas, lembrou ele, desde uma das primeiras fotografias já houve algum tipo de encenação. Na foto captada por Daguerre do Boulevard consegue-se ver alguém engraxando uma bota na imagem. Foram muitos minutos para ser feita essa imagem, e por isso não se veem pessoas nela, apenas o engraxate, mas será que ele ficou espontaneamente 7 ou 8 minutos engraxando uma bota? Para Mickele, esse tipo de debate pode ser infrutífero, pois só conduz ao que se acredita da relação de valor de prova de uma fotografia.
“Essa reflexão sobre esses dogmas é pra poder rever e pra poder dizer o quanto eu admiro e gosto do trabalho do Henry. Tanto na simbologia do resgate, de valores que foram sendo engolidos pela sociedade de consumo, no momento que traz idosos e conversa com eles e tenta fazer uma história ele está misturando ficção e realidade, a ficção na construção de cenas, de um mundo imaginário, que contudo é construído a partir da realidade de longas e valiosas experiências de vida. Suas imagens são sobretudo testemunhas de um diálogo. Cada fotografia sua nos conta uma história que mistura sonhos, esperanças, alegrias, mas também carregam questionamentos sobre a sociedade de consumo, choque de civilizações, choque de gerações, as idades da vida, assim como uma sutil mas forte violência que vêm dos meios de comunicação com seus excessos. Porque acabaram por deslocar o valor e a importância da transmissão de conhecimento das histórias contadas pelos nossos pais mas principalmente pelos nossos avós. Essa situação acaba por escancarar uma situação que considero triste e até um certo ponto terrível, que o que antes era sinônimo de sabedoria, e a grande autoridade da figura dos avós, hoje se transformou em solidão e fraqueza. Projetos como A Cabana de Nossos Avós, assim como Cabanas Imaginárias ao Redor do Mundo, são carregados de utopia fundamental em abraçar e conversar sobre encontros humanos.” Mickele Petruccelli
Mito
Outra convidada que trouxe um mundo de sonhos e mitos ao Paraty em Foco foi a paraense Elza Lima. Na mesa “Amazonas”, comandada por Marcia Mello na sexta-feira do Festival, a fotógrafa contou sobre o seu projeto que ganhou o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia 2010. Suas fotos registram mulheres que vivem às margens do rio Nhamundá, no Equador. O explorador espanhol Francisco Orellana descreveu estas mulheres como sendo as amazonas da mitologia grega, quando fez uma viagem até a foz do rio entre 1541 e 1542. Ele narrou ter visto mulheres brancas que atiravam flechas contra o seu barco, e assim ajudou a nomear não só o rio, mas também toda a floresta amazônica.
Elza contou que a concepção das suas fotos trabalhou com a ideia de que o que era em terra era real, e o que era da água era o espaço do mito. Ela pesquisou muito sobre as lendas que envolvem as amazonas para transpor isso para as suas fotos.
“Hoje eu leio muito antes, pesquiso, às vezes até construo a imagem. Nos primeiros trabalhos era muito livre, ia em busca da minha memória. E agora eu vou em busca da história, coloco a mitologia no meio. Hoje em dia gosto mais de pesquisar do que fotografar.” Elza Lima
A fotógrafa também falou em como a literatura influencia a sua fotografia.
“Eu acho que a literatura é a primeira formadora do olhar. Quando se lê se aprende a olhar também. A literatura influencia em geral no meu trabalho. A imagem começa com a palavra. Eu acho que na literatura tu vai criando e imaginando os personagens. Então eu acho que a literatura é uma forma de treinar o olhar.” Elza Lima
Cidades
“Construir uma Cidade, Constituir uma Coleção” foi outra mesa da sexta do Paraty em Foco, que trouxe o diplomata, fotógrafo e colecionador Joaquim Paiva para conversar com Pedro Karp Vasquez. Maior colecionador privado do país, Joaquim mostrou as fotos que ele mesmo registrou no surgimento de Brasília: ao contrário de outros fotógrafos, ele preferiu registrar a ocupação humana ao invés da arquitetura – fotos estas reunidas em livro.
“O que faz meu livro, essa minha visão ser diferente da maioria das visões é que sempre se fotografou Brasília para elogiar um projeto utópico fantástico de uma capital. Os fotógrafos preferiam registrar essa cidade utópica símbolo de um ideal utópico urbano da primeira metade do século 20, e não fotografavam cor, e nem o povo, preferiam fotografar em preto e branco. Eu procurei fazer a cara do povo a cores. A passagem do tempo mostrou que a utopia foi interessante, mas como quase toda utopia foi ilusão, não se concretizou como capital da irmandade, capital de um país mais justo.” Joaquim Paiva
Tatewaki Nio, o convidado seguinte no festival, também trouxe representações de cenas urbanas para seu projeto. O fotógrafo japonês, mas que mora no Brasil desde 2008, falou na “Mesa Zum - Transfusões, Migrações, Patrimônio”, por Rachel Rezende. Tatewaki ganhou a bolsa Zum para executar o projeto “Na Espiral do Atlântico Sul”, realizado em São Paulo e em alguns países da África Ocidental. Um tema por ele fotografado – influenciado por um livro do fotógrafo baiano Pierre Verger - foi a arquitetura dos chamados retornados – escravos que foram deportados do Brasil de volta à África, levando as influências brasileiras para o seu continente mãe. Tatewaki também procurou englobar em sua fotografia retratos e paisagem urbana, seguindo três tipos diferentes de diretrizes dentro seu projeto principal: as pegadas dos retornados; estou aqui, sou daqui; e megacidades.
Já tínhamos visto Tatewaki Nio falar no Valongo 2016, quando ele apresentou as fotografias de arquitetura que fez na Bolívia, com o projeto Neo Andina. Confira neste link como foi a sua fala na ocasião.
Natureza
Um dos mais celebrados fotógrafos de natureza do Brasil também desembarcou no Paraty em Foco 2018. Araquém Alcântara, com seus 53 livros publicados, conversou com Walter Carvalho na mesa “Colecionador de Mundos”, na sexta à noite do festival. Veja algumas fotos dele neste link.
Araquém contou que sempre leu muito, e assistiu mais filmes ainda. Ele começou como fotojornalista, mas sentia que algo estava errado. Até que entendeu que era o sentido de obrigação, pois quando pegava a câmera em seus momentos livres, a sensação era outra – tinha tempo para exercitar a paciência e a contemplação.
“Tem gente que hoje tem muita pressa pra roubar a cena, fazer a foto, logo publicar no Instagram e logo dizer: eu sou bom. E não é bem assim. Essa busca da imagem perfeita é uma saga de você observar movimentos, volumes, perfis. Tem que exercitar muito e oferecer o trabalho a críticas. Não pode parar no computador.” Araquém Alcântara
O fotógrafo também contou histórias sobre as suas fotografias. Um exemplo foi a que registrou o seu pai segurando um quadro com esqueletos de Hiroshima em frente a um cenário natural no litoral de São Paulo no qual o governo queria criar duas usinas nucleares e desapropriar os índios caiçaras. Araquém pensou o que a fotografia poderia fazer para impedir essa construção, e foi assim que surgiu a ideia para esta foto. Veja a foto neste link.
“A fotografia pode ser inventada, pode ser construída. Fotógrafo é aquele que do banal cria algo absolutamente revelador.” Araquém Alcântara
Para ele, qualquer um pode fotografar, mas é preciso treinar muito.
“Acho que todos podem fazer fotos maravilhosas, o que precisa é castigar os olhos, é buscar exercícios mentais, o exercício contínuo e sem fim, para assim realçar a inventividade. O clique é um grande desabafo, às vezes você fica caçando, caçando e não rola. Você sente isso, mas de repente uma unidade rigorosa de formas, como dizia o Bresson, se estabelece na sua frente como que por encanto. E você ao dar o clique sente um raro e indefinido prazer que é quase orgástico, é um encontro com a beleza. E a beleza, já dizia Proust, é o sagrado. Eu busco nas minhas fotos o sagrado.” Araquém Alcântara
Já tínhamos visto o Araquém no mesmo festival Valongo que vimos Tatewaki. .Confira aqui neste link muitos outros conselhos de Araquém
Conclusões finais
O 14º Paraty em Foco, tal como todos os festivais de fotografia do país, sobrevive pela resistência. Tal como já ocorreu no ano passado, o evento foi realizado sem nenhum patrocínio de leis de incentivo. Desta forma, as palestras deixaram de ser gratuitas, mas o custo também não era demais: R$ 25 por mesa. A convocatória e o Prêmio Projeto Curatorial também eram pagos, bem como workshops e leituras de portfólio. Essa é uma forma de autofinanciamento e de continuar existindo mesmo com tantos ventos soprando contra no cenário cultural do país.
O Paraty 2018 contou com cinco dias de programação, com quatorze mesas e mais de 30 convidados nacionais e internacionais para elas. Isso sem falar nas exposições, leituras de portfólio, convocatória, projeções e lançamentos de livros. Os números impressionam, mas o Paraty em Foco vai muito além da quantidade. A qualidade de conteúdo e aprendizado que o festival proporciona são impossíveis de serem calculados. Por mais que as mesas tragam os convidados narrando os seus projetos, as narrativas apresentadas vão muito além de inspirar quem segue na carreira da fotografia. Mesmo sem realizarem discussões teóricas e que se entrelaçam com outras meses e outros participantes, ao fim percebemos uma costura curatorial por meio do tema “Fotografia: utopia / distopia” do festival. O que os fotógrafos que subiram ao palco mostraram foi uma verdadeira aula de visões de mundo diferenciadas, que aproximam o humano e que tem uma relevância fundamental para a sociedade. E nisso o projeto curatorial, precisamos reforçar, se destaca. Os convidados apresentaram relevância e coerência com o tema do festival deste ano que, aliás, continha em si uma lucidez mais do que necessária para os tempos contemporâneos.
Sendo assim, o Paraty em Foco acaba por se constituir como um evento imprescindível para quem quer ter o seu foco na fotografia autoral. Mas não apenas. Como vimos ao longo deste texto, e de tantas análises de festivais que fizemos, tudo conta para a inspiração de um fotógrafo. Mesmo para quem quer seguir na fotografia comercial, eventos como o festival internacional de Paraty abrem mentes, não apenas para a transformação profissional, mas também pessoal.
Texto: Sabrina Didoné (jornalista - 0018277/RS) e Liliane Giordano (mestre em Educação: arte, linguagem e tecnologia)
Fotos: Liliane Giordano