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Desperte o Fotógrafo que Existe em Você

"Uma Carta a um Jovem Fotógrafo" de Sergio Larrain: mais que um guia, um convite à paixão, à autenticidade e à criatividade.


Em "Uma Carta a um Jovem Fotógrafo", o renomado fotografo da Agencia Magnum Sergio Larrain oferece um guia inspirador e reflexivo para os aspirantes à fotografia. Através de uma conversa íntima com seu sobrinho Sebastián Donoso, Larrain compartilha suas experiências e insights, tecendo uma narrativa rica em ensinamentos valiosos sobre a arte da fotografia.


Larrain inicia a carta enfatizando a importância da paixão e da entrega total à fotografia. Ele adverte contra a busca por fama ou reconhecimento, defendendo a fotografia como uma forma de expressão autêntica e profunda. Em seguida, ele destaca a necessidade de desenvolver uma visão única e original, encorajando Sebastián a explorar o mundo com os próprios olhos e capturar a essência da realidade.


O fotógrafo enfatiza a importância da observação atenta e da escuta ativa, sugerindo que o jovem fotógrafo se conecte com o ambiente e as pessoas que o cercam, buscando compreender suas histórias e emoções. Ele também destaca a importância da paciência e da persistência, reconhecendo que o aprendizado da fotografia é um processo gradual que exige tempo e dedicação.


Larrain aconselha Sebastián a não se limitar a técnicas e regras predefinidas, mas sim a experimentar e buscar novas formas de expressão. Ele encoraja a exploração de diferentes estilos e gêneros fotográficos, defendendo a liberdade criativa como um elemento essencial para o desenvolvimento artístico.


Ao longo da carta, Larrain compartilha algumas de suas experiências pessoais como fotógrafo, relembrando momentos desafiadores e gratificantes que moldaram sua trajetória. Ele também oferece conselhos práticos sobre como escolher equipamentos, selecionar temas e editar fotografias.


Sergio Larraín (1931-2012) escreveu em 1982 uma carta ao sobrinho que queria ser fotógrafo.


Leia a Carta para se inspirar e aprender a fotografar


“Quarta-feira. Em primeiro lugar você tem que ter uma câmera que você gosta, a sua preferida, porque é sobre se sentir confortável com o que você tem em suas mãos: o equipamento é fundamental para qualquer profissão, e que seja o mínimo, o estritamente necessário e nada mais.. Em segundo lugar, ter um ampliador a sua escolha, o melhor e mais simples possível ( em 35 mm o menor fabricado pela LEITZ é o melhor e vai durar toda a sua vida).


O jogo é partir para aventura, como um marinheiro: soltar as velas.

Ir para Valparaiso ou Chiloé, estar na rua durante todo o dia, passear e passear em lugares desconhecidos, sentar-se debaixo de uma árvore quando você está cansado, comprar uma banana ou um pouco de pão e entrar no primeiro trem, ir para onde quiser, e olhar, desenhar também, e olhar.


Afaste-se das coisas que você sabe, entre no mundo do desconhecido, deixe-se levar pelo seu gosto, de um lugar para outro, por onde você for vá clicando. 

De pouco a pouco vai encontrar coisas e ver imagens, as tomar como aparições.


Assim que você voltar para casa, revela, copia e começa a olhar para o que você pescou, todos os peixes, e cole tudo com fita adesiva na parede, revele-as no tamanho de folhas de cartão postal e olhe-as. Depois começa a brincar com o L, a buscar cortes, para enquadrar, e vai aprendendo composição, geometria. Vai enquadrando perfeitamente com o L e amplia o que tem enquadrado e deixe na parede.


Assim vai olhando, para ver.

Quando você se certificar de que uma imagem é ruim, jogue-a fora. As melhores coloca mais alto na parede, ao final guarda as boas e nada mais (guardar o medíocre te deixa preso no medíocre). No topo apenas o que se salva, joga todo o resto fora porque carregamos no psicológico tudo aquilo que retemos.


Em seguida, faz algum exercício, se entretenha com outras coisas e não se preocupe mais. Comece a olhar para o trabalho de outros fotógrafos e busca o lado bom de tudo o que você encontrar: livros, revistas, etc., e obtenha o melhor, e se você puder cortar, fica com o bom e vai pregando na parede ao lado da sua, e se você não puder cortar, abre o livro ou revista nas páginas das coisas boas e deixe-os abertos em exposição. Deixe assim por semanas, meses, o tempo necessário, demoramos muito para ver, mas aos poucos você vai se entregar ao segredo e você vai ver o que é bom e a profundidade de cada coisa.


Vá em frente com a sua vida, desenhe um pouco, dê um passeio, mas não se force a tirar fotografias: isso mata a poesia, a vida em si fica doente. Seria como forçar o amor ou a amizade: você não pode fazer isso. 


Quando você nasce de novo, você pode partir em outra viagem, outra vagabundeação: a Puerto Aguirre, pode descer a Baker a cavalo para as geleiras de Aysén; Valparaiso é sempre maravilhosa, é perder-se na magia, perca alguns dias girando ao redor das colinas e ruas e durma em um saco de dormir em algum lugar no meio da noite, tão entranhado na realidade, como nadar debaixo d’água, que nada te distraia, nada convencional.


Deixe seus pés guiá-lo lentamente, como se você estivesse curado pelo gosto de olhar, cantarolando, e o que for aparecendo vai fotografando com mais cuidado, e você vai aprender sobre composição e enquadramento, você vai fazê-lo com a sua câmera, e, portanto, sua cesta vai encher com os peixes, e você vai voltar para casa.

Aprenda foco, diafragma, primeiro plano, saturação, velocidade, etc., aprende a brincar com a máquina e suas possibilidades, e vai coletando poesia (sua e dos outros), leva tudo de bom que encontrar, dos outros também. Faz uma coleção das melhores coisas, como um pequeno museu em uma pasta.


Siga o que você gosta e nada mais. Não acredite em nada mais do que seu gosto, você é a vida e a vida é a que se escolhe. O que você não gostar, não veja, não funciona. Você é o único critério, mas observa o dos outros. Vai aprendendo, quando você tiver uma foto realmente boa, a amplie, faz uma pequena exposição ou um livro (…). Fazer uma exposição é dar algo, como dar de comer, é bom para os demais que lhes seja mostrado algo feito com trabalho e gosto. Não é para se gabar, é bom para você, é bom para todos e isso é bom para você, porque lhe dá feedback. Bom, isso é o suficiente para começar. É sobre vaguear, sentando-se sob uma árvore em qualquer lugar. É vagar sozinho pelo universo. Tens que começar a olhar de novo, o mundo convencional coloca um véu sobre os seus olhos, tens que tirá-lo durante o período da fotografia”.


No vídeo abaixo o sobrinho, Sebastián Donoso, faz a leitura da carta de seu tio!



"Uma Carta a um Jovem Fotógrafo" é um texto rico em ensinamentos e reflexões valiosas para qualquer aspirante à fotografia. Através da voz experiente e inspiradora de Sergio Larrain, o leitor é convidado a mergulhar no universo da fotografia com paixão, autenticidade e criatividade. A carta serve como um guia fundamental para aqueles que buscam desenvolver uma visão única e expressiva através da lente da câmera.


Assista o Documentário Sergio Larraín: El Instante Eterno


Não deixe de assistir o documentário sobre a sua vida, que apresenta um rico acervo de fotografias inéditas de Larraín, entrevistas com pessoas próximas ao artista, com insights valiosos sobre sua vida e obra. E, uma reflexão sobre o papel da fotografia como ferramenta de expressão social e artística. Mais do que um simples retrato biográfico, o filme oferece uma exploração profunda da mente complexa e do processo criativo único deste fotógrafo visionário.


Sergio Larraín: El Instante Eterno é um documentário recomendado para todos os públicos que se interessam por fotografia, arte e cultura chilena. O filme oferece uma jornada inspiradora e reflexiva sobre a vida e obra de um artista visionário que desafiou os limites da sua época e deixou um legado inestimável para a história da fotografia.



Larraín era um artista inquieto e rebelde, constantemente buscando transcender os limites da fotografia tradicional. Através de técnicas inovadoras e composições ousadas, ele capturou a essência da vida chilena em suas diversas facetas, desde a beleza da natureza até as dificuldades da realidade social.


O documentário apresenta um rico acervo de fotografias de Larraín, muitas delas inéditas, que revelam a sensibilidade e o talento excepcionais do artista. Através de entrevistas com amigos, familiares e colegas de profissão, o filme traça um perfil multifacetado de Larraín, explorando suas influências, desafios e paixões.


Sergio Larraín: El Instante Eterno vai além de simplesmente apresentar a obra de Larraín. O filme convida o espectador a refletir sobre o papel da fotografia como ferramenta de expressão social e artística, e sobre a importância de buscar a autenticidade e a originalidade em um mundo cada vez mais padronizado.


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