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Livro que todo Fotógrafo deve ler

Diante das Águas: reflexões sobre a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul à luz de "Diante da Dor dos Outros" de Susan Sontag


"Diante da Dor dos Outros" nos convida a olhar para a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul com olhos sensíveis e críticos. A obra de Sontag nos impulsiona a refletir sobre o nosso papel como testemunhas e agentes de mudança, nos desafia a superar a anestesia da distância e a nos engajarmos criticamente com a realidade que elas representam. Através da reflexão e da ação responsável, podemos transformar as imagens em ferramentas para a construção de um mundo mais compassivo e justo.


Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul foi assolado por enchentes de proporções épicas, deixando um rastro de destruição e dor que marca para sempre a vida de milhares de pessoas. Face a face a essa tragédia, a obra "Diante da Dor dos Outros" de Susan Sontag se torna um guia fundamental para compreendermos as complexas emoções que surgem diante do sofrimento alheio e para refletirmos sobre o nosso papel como testemunhas e agentes de mudança.


Susan Sontag dedica um capítulo à reflexão sobre a pergunta de Virginia Woolf: "Na sua opinião, como podemos evitar a guerra?". Essa pergunta, embora contextualizada no período entre guerras do século XX, ganha nova relevância quando aplicada à questão da representação da dor e do sofrimento humano, especialmente em contextos de tragédias como as enchentes no Rio Grande do Sul.


Sontag argumenta que a resposta de Woolf, "Olhe!", aponta para a importância da atenção e do engajamento com a dor dos outros como ponto de partida para a ação. "Não basta olhar. É preciso ver." (SONTAG, 2003, p.12) No entanto, a autora questiona como essa atenção deve se manifestar, ponderando os riscos da exploração sensacionalista da dor e da banalização do sofrimento.


O livro nos convida a distinguir entre a "dor visível" e a "dor invisível". A primeira, presente nas imagens chocantes das enchentes, desperta nossa compaixão imediata. Já a segunda, a dor silenciosa daqueles que perdem tudo e precisam reconstruir suas vidas, muitas vezes é ignorada ou esquecida.


As imagens são um convite à imaginação, a um despertar de emoções. Com a fotografia tem vindo um novo sentido da noção da informação, visto que a fotografia é uma pequena fração do espaço e do tempo. “A sabedoria suprema da imagem fotográfica é dizer: ‘Aí está a superfície. Agora, imagine – ou, antes, sinta, intua – o que está além, o que deve ser a realidade, se ela tem este aspecto” (SONTAG, 2003, p.18). A fotografia não apenas reproduz o real, recicla-o – um procedimento fundamental numa sociedade moderna. Na forma de imagens fotográficas, coisas e fatos recebem novos usos, destinados a novos significados, que ultrapassam as distinções entre o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o útil e o inútil, bom gosto e mau gosto. [...] Existem maneiras de ver, e, pontos de vista para registrar e torná-las interessantes. Imagens de coisas reais são entremeadas com imagens de imagens (SONTAG, 2003, p.96).


A autora defende a importância de reconhecer o poder da fotografia como ferramenta de memória e de despertar a consciência social. "O esquecimento é o risco de toda tragédia." (SONTAG, 2003, p.102) As imagens, quando utilizadas com responsabilidade e ética, podem ser instrumentos poderosos para denunciar injustiças, defender causas e construir um mundo mais justo e humano. No entanto, Sontag também adverte sobre os perigos da exploração comercial e da manipulação das imagens da dor. A transformação da guerra e do sofrimento em espetáculo mediático, em mera mercadoria ou ferramenta de propaganda, banaliza a dor e impede a verdadeira compreensão das suas raízes e consequências.


Diante dessa realidade complexa, Sontag propõe um papel ativo para o espectador. Devemos nos tornar consumidores críticos de imagens, questionando sua origem, contexto e intenções. Cabe a nós buscar fontes de informação confiáveis, verificar a autenticidade das fotos e evitar compartilhar informações sem antes confirmar sua veracidade.


A autora também defende a necessidade de um debate público sobre a ética da fotografia, especialmente em relação à representação da dor e da violência. Esse debate deve buscar estabelecer diretrizes e limites para a utilização das imagens em contextos sensíveis.


Susan questiona a nossa responsabilidade como espectadores da dor alheia. Devemos apenas documentar o sofrimento ou devemos agir para aliviar a dor? Como podemos representar a tragédia de forma ética e responsável, sem cair na exploração sensacionalista ou na banalização da dor?


Ela defende a importância da empatia como base para a ação solidária. "A ação é a única maneira de fazer a diferença no mundo." (SONTAG, 2003, p.80) Ao nos colocarmos no lugar do outro, podemos compreender suas necessidades e buscar formas de ajudá-lo. No entanto, a empatia não basta. É preciso agir, mobilizar recursos e doar tempo e esforço para auxiliar as vítimas da tragédia.


A autora também destaca a importância da memória para a superação da dor. É preciso lembrar das vítimas e das lições aprendidas com a tragédia para que possamos construir um futuro mais resiliente. No entanto, o risco do esquecimento é sempre presente. Cabe a nós, como sociedade, manter viva a memória das enchentes e lutar para que tais eventos não se repitam.


As imagens das enchentes no Rio Grande do Sul ainda estão frescas em nossas mentes. Casas submersas, famílias desabrigadas, rostos marcados pela dor e pela desesperança. "Não somos responsáveis pela dor dos outros, mas somos responsáveis por como respondemos a ela." (SONTAG, 2003, p. 56) É impossível ficar indiferente diante de tanto sofrimento.


Mas, além da dor, também podemos ver a força e a resiliência do povo gaúcho. Famílias se unindo para ajudar umas às outras, voluntários trabalhando incansavelmente para amenizar o sofrimento, a comunidade se mobilizando para reconstruir o que foi perdido. Diante dessa tragédia, cabe a cada um de nós fazer a sua parte. Seja com doações, trabalho voluntário, ou simplesmente com um abraço solidário, podemos mostrar que estamos juntos nessa luta.


Lembremos-nos das palavras de Susan Sontag: "A dor dos outros não nos diminui, nos torna mais humanos." (SONTAG, 2003, p.11) Que a dor das enchentes no Rio Grande do Sul nos inspire a sermos mais compassivos, mais engajados e mais humanos.


Referência Bibliográfica:

Sontag, Susan. Diante da Dor dos Outros. Tradução de Maria Carolina de Oliveira. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.


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