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Livro que todo Fotógrafo deve ler

O Fotográfico: Uma Reflexão Crítica de Rosalind Krauss sobre a Fotografia



No livro "O Fotográfico", Rosalind Krauss realiza uma análise contundente e inovadora sobre a fotografia, desafiando concepções tradicionais que a vinculam à pintura e à história da arte. Krauss propõe que a fotografia deve ser entendida em seus próprios termos, como um campo artístico distinto que exige novas abordagens teóricas. Neste texto, discutiremos os principais argumentos da autora, à luz de referências críticas contemporâneas.


A Fotografia como Campo Artístico Específico


Krauss inicia sua investigação desafiando a ideia de que a fotografia pode ser avaliada pelos mesmos critérios históricos e taxonômicos aplicados à pintura. Ela afirma que “o universo da fotografia é o do arquivo, não o do museu”, destacando que a obra de fotógrafos como Eugène Atget só pode ser plenamente compreendida levando em conta essa dinâmica (Krauss, 2012). Essa perspectiva é fundamental, pois reconhece a natureza efêmera e acumulativa da fotografia, em contraste com a estabilidade da pintura, que é muitas vezes encarada como uma obra isolada.


A crítica de Krauss reverbera em análises contemporâneas, como as de Thierry de Duve, que argumenta que “a fotografia, por sua própria natureza, opera em um espaço de documentação e memória que difere radicalmente do conceito de autenticidade na pintura” (de Duve, 2016). Essa diferenciação permite uma apreciação mais rica das práticas fotográficas, que são muitas vezes subestimadas ou mal interpretadas sob uma ótica pictórica.


A Noção de Escritura e a Intervenção da Estética


No segundo momento lógico de sua argumentação, Krauss introduz a noção de escritura como um meio para refutar a flutuante categoria de estilo na fotografia. Ela sugere que essa abordagem permite uma “reelaboração estratégica e funcional” da produção fotográfica do século XX, conectando movimentos como a "nova objetividade" da Bauhaus e a “beleza convulsiva” do surrealismo (Krauss, 2012). A intersecção entre essas correntes artísticas se torna mais clara quando se utiliza a escritura como chave de leitura, revelando as intenções e os contextos sociais por trás das imagens.


Críticos contemporâneos, como Okwui Enwezor, enfatizam que essa ligação entre diferentes estilos fotográficos pode ser compreendida em termos de “compromissos políticos e estéticos que moldaram as práticas artísticas do século XX” (Enwezor, 2018). Essa conexão reforça a ideia de que a fotografia é um veículo não apenas de representação, mas também de crítica social e cultural.


A Fotografia como Modelo Teórico


O terceiro momento, considerado o mais importante por Krauss, propõe que a fotografia se transforma em um modelo teórico ou uma chave de leitura que transcende seu caráter empírico. Ela defende que a fotografia pode proporcionar uma reflexão crítica sobre movimentos artísticos do século XX que, ao serem analisados sob uma perspectiva pictórica, resultaram em uma análise estéril (Krauss, 2012). Essa abordagem inovadora permite uma reavaliação das relações entre a fotografia e outros meios artísticos, revelando novas dimensões de interpretação.


Nesse sentido, a análise de Krauss se alinha com as observações de outros críticos que argumentam que “a fotografia, como uma prática, desafia as fronteiras tradicionais da arte e abre espaço para novas narrativas e significados” (Bishop, 2021). Isso sugere que a fotografia, longe de ser uma mera cópia da realidade, é uma forma de arte capaz de interrogar e expandir o entendimento da cultura visual.


"O Fotográfico" de Rosalind Krauss representa uma contribuição essencial para a compreensão da fotografia como um campo artístico distinto e complexo. Ao desafiar os critérios tradicionais da história da arte e introduzir novas noções teóricas, Krauss abre espaço para uma reavaliação crítica das práticas fotográficas do século XX. Sua obra convida os leitores a reconsiderar a fotografia não apenas como um registro do real, mas como um meio potente de reflexão estética e cultural.


Referências


  • Bishop, C. (2021). Artificial Hells: Participatory Art and the Politics of Spectatorship. Verso.

  • de Duve, T. (2016). The Urge to Create: The Artist in the Post-Modern Era. MIT Press.

  • Krauss, R. (2012). O Fotográfico. Editora Gustavo Gilli.


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